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Foto do escritorColetivo De Capoeira Angola UFABC

(26/4) Mesa sobre Capoeira e Gênero

Atualizado: 6 de mai. de 2020

Fala de abertura conduzida por Tabatta Ventura*


"Nosso trabalho de Capoeira na Universidade Federal do ABC começou em 2014 no campus Santo André. Em em São Bernardo em 2017. Desde 2015 temos uma preocupação e um trabalho voltado em relação a presença e a permanência das mulheres em geral e dos negros e negras na capoeira. Em 2016 reunimos em Santo André mulheres que já tinham treinado conosco e tinham saído do grupo e também outras mulheres de outros grupos que por ventura também não estavam treinando. É nessa conversa surgiu uma Gama enorme de motivos que as faziam não permanecer. Minha mãe tinha falecido 3 dias antes dessa reunião. Quando muitas pessoas perguntaram se eu iria cancelar eu disse que não. Porque eu tenho hoje 26 anos de capoeira entre idas e vindas. Mas é algo que acredito profundamente e minha mãe sempre foi modelo de persistência e resistência. Toda essa conversa gerou um documento que nós no mesmo ano lemos no evento de 09 anos de Grupo com a presença de um dos mestres do Grupo na ocasião. Toda nossa fala foi relativizada e posso dizer menosprezada pelo mestre em questão e por muitos presentes.


Em 2017 nos nossos 10 anos continuamos a escrever O documento e não somente escrever. Mas deixar ele público para que outras mulheres pudessem se espelhar e se identificar e não desistir da prática da capoeira mesmo tendo tantos obstáculos. Mais uma vez esse documento foi lido numa conversa aberta com um dos mestres presentes e mais uma vez nossa fala foi abafada, relativizada e menosprezada. Quando uma aluna fez uma fala que me marcou. “Temos que falar e nos expor. Mas o mais importante disso tudo é manter a nossa saúde mental.” Isabela. Fui convidada a estar na XX Conferência de Mulheres da FICA ( Fundação Internacional de Capoeira Angola), instituição da qual fizemos parte por 10 anos, em WDC, EUA. Na ocasião pedi espaço para lermos o documento denominado “ Cadê Salomé” fazendo essa alusão sobre onde estão as mulheres na capoeira, partindo de um texto da Dra Cristiane Zonzon onde ela fala que as mulheres estão na capoeira, estão presentes nos treinos, na organização dos grupos, mas na hora da roda de capoeira, elas não estão. Ou se estão não estão protagonizando a roda.

Na Conferência de Mulheres da FICA além de ter a presença de grandes e expressivas lideranças de Mulheres abriu um espaço para discussões sobre gênero, racismo, feminismo e sobre a necessidade de se discutir violências dos mais variados tipo, indo além do discurso, propondo ações para gerarmos igualdade nas relações de capoeira e com isso refletir na sociedade. Quero ressaltar algumas falas dessas mulheres: Sylvia Robinson que faleceu em 2018. Sylvia dizia que condição e a pobreza, que é quase impossível os negros e negras estarem presentes nos espaços da Capoeira. Mestra Paulinha e Mestra Janja falam sobre a diferença de estrangeiras e brasileiras, países economicamente mais estáveis e pessoas com condições financeiras favoráveis tem mais privilégios, como tempo e dinheiro para treinar, inclusive para irem ao Brasil. Mestra Janja em outra fala diz que as mulheres negras causaram uma ruptura familiar, que são as primeiras mulheres de suas famílias a entrar na universidade e mostra dados que a constituição de famílias chefiadas por mulheres são 20 a 23% mulheres brancas e 78% mulheres negras. E isso reflete do porque as mulheres negras não estão nos lugares, não estão nos espaços e que as mulheres negras não são as outras. Uma aluna negra que não me recordo o nome fez um relato que pra mim foi revelador, porque existem pressões sobre a mulher de várias formas e ela relatou que se sente pressionada como mulher negra a ficar na capoeira, que às vezes por ela ser a única pessoa negra no espaço, colocam uma responsabilidade dela ser representante de toda uma comunidade. Ela não pode ser só ela, carrega um peso, só que não se sente apoiada para isso e se questiona: Qual o valor da mulher preta na capoeira? Ela sente necessidade de apoio das pessoas negras e não negras pra ficar no espaço da capoeira. Uma outra aluna negra também relatou que a violência acontece, violência social, sexual, racial e que a capoeira responde a essa violência. Que a comunidade da capoeira possa dar segurança as pessoas e pensar num sistema quando a violência acontece.


Zendo disse que as mulheres estão investindo na comunidade da capoeira, mas será que as pessoas estão preparadas para investir onde realmente estão as pessoas? Flávia, professora de dança afro também fez uma colocação que a preocupação não é se tem ou não negro(a)s dentro do espaço da capoeira, mas onde estão esses(essas) negro(a)s e como fazer para que eles e elas cheguem e fiquem. Que ela se pergunta se ela tem sido uma referência negra? Que essa referência pode começar com ela e com qualquer uma. Mestre Cobra Mansa em outro momento diz que nós não vamos conseguir mudar a capoeira, mas que podemos fazer um bom trabalho. E é por isso que hoje reunimos essas três professoras para fazer suas falas nessa mesa. Porque queremos fazer um bom trabalho."


*Formada em fisioterapia , especialista em fisioterapia esportiva, fisiologia do exercício e acupuntura, capoeirista há 26 anos, co- fundadora do Coletivo de Capoeira Angola da UFABC, atua ministrando aulas de Capoeira Angola há 12 anos.

Ministrou palestras sobre Lesões na Capoeira Angola na Universidade Bandeirante de São Paulo ( Uniban), Universidade de São Paulo ( USP), apresentou documento realizado pelo Coletivo de Mulheres da FICA São Paulo " Cadê Salomé" na XX Conferência de Mulheres da FICA em Washigton DC e Capoeira: Improving Health and Promoting Inclusion” na Universidade do Alabama ( UAB)







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