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Foto do escritorRenan Lopes

A Herança de Pastinha (Mestre Decânio)

Atualizado: 4 de ago. de 2020

(Fonte e acervo: Zélia Gattai)

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“não devemos procurar ficar isolado, porque nada podemos fazer; é muito certo o trocado popular que diz: a união faz a força:...”

O ano de 2020 já estava começando a engrenar. Vários projetos começando a ser colocados em prática, no âmbito pessoal de cada um e também no Coletivo. O início do Projeto de Extensão já estava dado, sendo que a logística para a realização dos nossos eventos já começava. Eis que surge o confinamento, o distanciamento, a mudança de paradigmas que faz o mundo inteiro parar e replanejar como lidar com a nova realidade. E era assim que o grupo se encontrava… sem treinos, sem ouvir o tocar e cantar do outro, sem saber quando seria a próxima roda, sem pernas pro alto “fazendo miserêr”. Como continuar a aprender e estudar a capoeira nessa nova forma?

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“persisamos ainda de brilhantes capoeiristas que <se> unam fazendo-se colegas, reunam os seus votos mais cincerios que formulam o seu crecente progresso, é um apelo pessoal <à> colaboração. Qual a razão que o capoeiristas não unem-se para compreender, e fortalicer o seu esporte?”

Foi aí que surgiu a ideia de fazermos encontros virtuais, escolhendo alguns textos, livros ou artigos para ler e discutir. Dessa forma, independente do desenvolvimento da parte física, poderíamos pelo menos, como grupo, exercitar as nossas mentes, trocar ideias, estudar e entender um pouquinho mais desse grande mundo que é a Capoeira Angola. E por onde começar? Nada melhor que a base do que fazemos. Entender um pouco mais dos pensamentos que regem e inspiram o que a gente faz, e das origens da nossa linhagem de capoeira. Mestre Pastinha!

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“… todos aqueles que queira se dedicar a esse esporte, que como capoeirísta; quer como juiz? Deve procurar municiosamente ás regras da capoeira de angola; para que possa falar ou dicidir com autoridade. Infelizmente grande parte de nossos capoeiristas tem conhecimento muito incompleto das regras da capoeira, pois é o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não discambe exesso do vale tudo”

Optamos por ler “A Herança de Mestre Pastinha”, escrito pelo Mestre Decânio. O livro se trata de uma discussão e reapresentação das ideias de Mestre Pastinha, contidas em seus manuscritos. Sua narrativa segue a seguinte estrutura: um trecho extraído dos manuscritos do Mestre Pastinha, seguido por comentários do Mestre Decânio, passando a sua visão e interpretação daquilo, muitas vezes acrescentando também novas informações.

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“É dever de todos capoeiristas, não é defeito não saber cantar; mais é defeito não saber responder, pelo meno o côro. É proibido na bateria pessôas que não respondem o côro.”

Num início tímido, com dificuldades de quebrar a barreira virtual e se relacionar naquele novo formato, o grupo começou a expressar algumas de suas dúvidas, mostrar os trechos que tinham chamado a atenção, confirmar se os outros haviam entendido a mesma coisa de certa frase ou palavra. A intermediação e os comentários dos mais velhos do grupo ajudaram a dar mais corpo pras discussões, que acabaram levantando alguns pontos interessantes.

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“…, e eu não perco minhas ideias, vou firme com os que me acompanham a vencer, vencer para não ser vincido a minha idea, e ser perfeito em todo sintido phase, por phase, palavras por palavras;...”

Uma das coisas válidas de destacar foi a percepção que foi se adquirindo de que era necessário separar a visão de Mestre Decânio e a de Mestre Pastinha, uma vez que nem sempre elas se mostravam iguais. Também chamou a atenção a dificuldade de se entender a linguagem do Mestre Pastinha em alguns momentos, sendo necessário a opinião de vários integrantes do grupo para que se conseguisse chegar a um consenso do que significavam suas palavras e o contexto em que aquilo havia sido escrito.

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“O bom capoeirista nunca se exalta procura sempre estar calmo para poder refletir com percisão e acerto; não discute com seus camaradas ou alunos, não touma o jogo sem ser sua vez. Para não aborrecer os companheiros e dai surgir uma rixa; ensinar aos seus alunos - sem procurar fazer exibição de modo agresivo nem apresentar-se de modo discortez...”

Foram realizados dois encontros para debater o texto, e os assuntos que se destacaram variaram. Em alguns momentos, o que se chamou a atenção foram diferenças nos costumes das rodas e da academia, como a existência de mestres com diferentes funções (mestre de canto, de bateria, arquivista), o uso do apito nas rodas, a presença de juiz, o uso de outros instrumentos como a viola… Em outros momentos, a discussão estava focada em questões mais amplas, principalmente na ética defendida por Mestre Pastinha. Foi importante para o grupo discutir sobre qual a importância do que Mestre Pastinha fez, qual o legado que ele deixou, o respeito ao outro que ele pregava e os valores como respeito à tradição, o conhecimento das regras da capoeira, a importância da lealdade e da dedicação.

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“...não pode dizer que esta luta não depende de tempo para aprender.”

Para um primeiro encontro, foi uma experiência muito boa para o grupo. Deixou perguntas e curiosidades para quem quisesse correr atrás, assim como abriu as portas para uma nova atividade e novas experiências para o Coletivo, enquanto não pode voltar a se reunir e praticar no corpo-a-corpo a Capoeira que tanto nos inspira!

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