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  • Foto do escritorRenan Lopes

Capoeiras em São Paulo

Após um 2020 cheio de reflexões e estudos sobre a capoeira angola, fica evidente o destaque da Bahia e do Rio de Janeiro como centros mais comuns de ocorrência de capoeiras. As fontes que remetem a história da capoeiragem nessas cidades são vastas e apresentam uma boa quantidade de informações sobre os acontecimentos dentro deste universo na época. Diante disso, embora a linhagem a qual seguimos venha da cidade de Salvador, somos um coletivo localizado em Santo André, próximo a cidade de São Paulo, e é inevitavel questionarmos se havia capoeira por essas bandas antes mesmo da chegada dos mestres vindos da Baía de todos os santos.


Encontramos algumas respostas no livro de Pedro Figueiredo Alves da Cunha, Capoeira e valentões na história de São Paulo (1830-1930). Como já é de conhecimento popular, os indícios de capoeira surgem com os africanos que vieram escravizados, e aqui em São Paulo não poderia ser diferente, trazida certamente por praticantes vindos de outras lugares como Rio de Janeiro e Bahia. E não é só ai que a historia da capoeira em São Paulo se cruza com esses dois estados, as divergências das autoridades paulistas quanto a prática da capoeira eram bem semelhantes ao que ocorria nesses dois lugares, sendo que de um lado haviam aqueles que acreditavam que restringir as práticas populares dos negros poderia levar a revoltas e rebeldias, enquanto do outro, era consenso de que a capoeira e os batuques representavam atentados a ética e moral pública, promovendo algazarras e desordens, inclusive, a fama das maltas da capital carioca contruibuiram bastante para uma má fama da capoeira, vindo influenciar em uma maior preocupação por parte das autoridades com a pratica da mesma em São Paulo.



Autoria: Carybé


Outro ponto importante que o autor nos apresenta é a aproximação entre a capoeira e as universidades. Qual não foi a surpresa quando um jornal da epóca (Farol Paulistano) relatou o envolvimento de um professor de francês que lecionava na recem criada Academia de Direito de São Paulo (frequentada lógicamente pela elite branca de várias regiões do país) criticado por jogar capoeira no chafariz com os negros. Certamente um escândalo na época… Como se não bastasse o professor, também foram relatadas badernas e confusões envolvendo alguns estudantes que se valiam de pedras, paus e principalmente, de capoeira. E o que falar então de Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira, que ao terminar sua formação retornou ao Rio de Janeiro onde começou a usar capoeiras como capangas políticos e criou sua propria mílicia (Malta) em que ele batizou como “Flor da gente”.


Falando em maltas não podemos deixar de nos referir à cidade de Santos, no litoral paulista, que durante a sua urbanização viu crescer uma rivalidade entre dois bairros da cidade, primeiro com provocações sarcásticas nas reportagens locais da época até o confronto utilizando a capoeira como arma, que produzia cenas sangrentas e violentas.

Não demorou muito para que so criassem grupos dos dois lados que lutavam entre si não apenas pela rivalidade, mas com o passar do tempo envolvendo também interesses politicos. As disputas entre quarteleiros e valongueiros foram deixando de acontecer por volta de 1880, quando os ideais abolicionistas começaram a pairar pela cidade, causando quase que a luta por um objetivo em comum. A luta pela Liberdade, em que os capoeiras agiam contra as forças policiais que reprimiam cativos e capitães do mato que perseguiam escravos fugitivos. Nesse período destaca-se o líder do Quilombo do Jabaquara, Quintino de Lacerda.


Já no pós abolição, a capoeira é vista com medo e desconfiança pela sociedade paulista que havia acompanhado de perto a luta pelo fim da escravidão tendo a capoeira como uma de suas principais armas. Com a chegada dos imigrantes europeus e a falta de política para a população negra e ex-cativa da época, foram-se criando redutos negros na cidade onde não só mais a capoeira era jogada, como também haviam os batuques, os sambas e as pernadas. Muitos valentões começaram a se interessar por outras modalidades que ganhavam notoriedade, como o futebol. Alguns outros ainda faziam a segurança de bailes negros e desfiles de carnavais.


Podemos ver como todo o contexto politico que o país atravessou, teve influencia direta na prática da capoeira, seja em sua proibição ou no seu uso através da capangagem para favorecimentos politicos. A história da capoeira em São Paulo é bem próxima com tudo que se passava em outras regiões do país e até mesmo na sua organização, com a formação de grupos que entravam em conflitos utilizando a capoeira como arma de luta.


Coletivo de Capoeira Angola da UFABC

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